Ser ao mesmo tempo
Certas coisas andam vagando a minha cabeça nos últimos tempos: as relações que estabelecemos com pessoas diferentes. Problemas familiares andam me fazendo refletir acerca do que sou, do que posso ser e do que não sou permitida a ser ao mesmo tempo em que sou outra.
É possível ser mandona e prestativa, ser brigona e calma, ser nervosinha e querida, ser porra louca e certinha. Tudo depende de onde estamos, como estamos e com quem estamos. Somos sempre bombardeados de dicotomias e necessidades de ser isso para alguém e ter de ser a mesma pessoa, em termos de personalidade e características, para outro alguém. Ser sempre o mesmo: não podemos ter e ser nas relações diferentes com diferentes pessoas; se você é isso, você não pode ser também aquilo.
Não, as coisas não são dicotômicas assim. Como diria Lévi- Bruhl, tudo pode ser e não ser ao mesmo tempo, sem dicotomias, sem complementos. Sou uma quando estou com amigos, outra quando estou com a família, outra quando estou com amigos antigos, outra quando estou com alteridades (amigos), sem esquizofrenia, nem falsidades, nem sonsices. Nossas relações são construídas de acordo com as pessoas, nos construímos e somos construídos ao mesmo tempo, de acordo com o lugar, de acordo com a companhia. Somos moldados e moldamos sempre: uma outra pessoa dependente da relação que não tem a ver com facetas.